quinta-feira, 7 de abril de 2011

Capitulo V

                                                              
                                                                 CAPÍTULO V

 Apoiada na janela, olhando o céu estrelado, Laura pensava no seu dia. Tinha sido muito divertido, na verdade. Mas era mais do que isso, ela estava começando a perceber o que realmente sentia quando estava junto do Miguel. Eles passaram o dia conversando, mas ela tinha a impressão de que os assuntos nunca acabariam, e que todo tempo do mundo não seria suficiente.
 E era nisso que ela estava pensando quando ouviu um chiado, como se alguém estivesse sussurrando seu nome. Todos na casa já dormiam. As luzes das casas da vizinhança estavam todas apagadas. Em meio à fraca luz do poste, Laura procurou alguém na rua... Mas estava completamente deserta.
 A garota então se convenceu de que não era nada, e voltava a observar os astros, quando ouviu de novo, uma voz muito aguda, chamando seu nome. Agora ouvira claramente, e o som viera da casa da frente. Levou um susto enorme quando seus olhos se encontraram com outros, muito grandes e amarelos, como faróis na escuridão.
 Uma coruja estava pousada no telhado da outra casa. Com as asas fechadas, o peito rajado, estufado. Suas pupilas dilatadas ao máximo faziam movimentos rápidos, acompanhando a cabeça que se movia de um lado para o outro, a procura de alguma presa. Por um segundo a ave se deteu olhando Laura, mas logo achou o que devia estar procurando, como pensou Laura, pois se preparou para alçar vôo.
 Suas asas se abriram e mostravam que ela era bem maior do que a menina imaginava. Deu um rasante perfeito, mas ao invés de pegar algum roedor do chão, ou simplesmente pousar na calçada, ela subiu novamente, batendo as asas furtivamente deu meia volta. Quando Laura se deu conta do que a ave pretendia era quase tarde demais. A última imagem que registrou da rapina foram os olhos amarelos arregalados, de aparência feroz, o som de suas asas e o pio agudo, antes de fechar a janela para impedir que a coruja entrasse em seu quarto!
 Ouviu o baque surdo do pássaro e ao que pareceu, a ave deu mais algumas investidas contra a janela de madeira. Laura correu para sua cama e ficou embaixo do cobertor de maneira que este cobrisse seus olhos, e tampou os ouvidos com as mãos para não ouvir mais os chiados da coruja lá fora. Mas naquela noite, demorou muito para conseguir dormir. Sonhou coisas horríveis com vozes que chamavam seu nome entre pios e sussurros, e com aqueles olhos amarelos, agourentos e frios.

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