domingo, 3 de abril de 2011

Capitulo IV

                                                           CAPÍTULO IV

Vultos, sons abafados... Laura corre, mas não sabe do que. Tudo muito estranho. Por mais que se empenhasse muito em ir para frente, era muito difícil. Parecia que algo a segurava, algo que ela não podia ver ou sentir. Viu Miguel acenando, em suas mãos a ampulheta, mas não conseguia ir até lá, e, nesse momento, tudo começou a ficar mais e mais distante. Um exponencial de barulho e gritos começou a crescer e culminou num silêncio. Escuro.
 Um ar frio tocou os pés de Laura, seus olhos pareciam muito pesados e não conseguiu abri-los completamente. Viu um teto descascado, uma lâmpada sem lustre, um cobertor furado, móveis velhos. Percebeu que aquele parecia muito o seu quarto, mas não podia ser. Suas coisas não estavam lá, nem seus presentes ou sua ampulheta. Pensou em levantar, mas seus olhos estavam se fechando sozinhos e a ultima coisa que ouviu foi o estrondo de uma porta batendo em algum lugar da casa e, logo em seguida, o choro de uma mulher.


 Como sempre, o sol já entrava pelas frestinhas da janela, iluminando a silhueta das coisas no quarto o cheirinho de dia novo vinha acompanhado de uma brisa fresca. A fina areia ainda caia sutilmente, o teto novinho e o lustre no lugar. “É, parece tudo normal. Esse negócio de sonho dentro de sonho é coisa de filme... Muito confuso pra mim...”- pensou Laura enquanto jogava seu cobertor de lado e saltava da cama.
Planejou muitas coisas para aquele dia e uma delas era ver Miguel, mas ao olhar para sua estante, estagnou-se. Sentou de volta na cama.
Uma frase bem feita pode gerar muito impacto em um leitor, a ponto de fazê-lo refletir sobre aquelas palavras por dias. O cartão que acompanhava a ampulheta, definitivamente, mexeu com Laura. Fez uma confusão em sua cabeça. Qual é o limite que separa a amizade de uma paixão, de um amor?
Pensou em não pensar muito nisso, mas só pensou. Logo em seguida, resolveu fazer as outras coisas em outra hora, e foi ver Miguel antes de mais nada. No caminho, não parou de pensar um segundo nele. Estava realmente muito feliz.
 Assim que Laura o chamou pra sair, ele sugeriu que fossem para o lugar costumeiro: o grande Carvalho. Seus galhos majestosos se erguiam sobre eles, suas folhas balançavam muito suavemente sobre a suave brisa que refrescava a tarde quente. O céu estava muito azul, tudo parecia perfeito aos olhos dos dois. “Não dever haver lugar mais lindo do que esse”- pensavam.
 Eles olhavam para cima, conversando coisas aleatórias. Ela, na verdade, queria comentar sobre o cartão, mas, não sabia bem o que dizer.
- Obrigada pelo presente!- disse ela, quase sussurrando.
- Não foi nada! –respondeu ele com um sorriso meio encabulado- você merecia algo melhor!
- Não acho isso, eu amei a ampulheta! Observar os grãos caindo e caindo me dá muita calma, como se tudo estivesse mais devagar... Mas na verdade, gostei mesmo foi do cartão!
 Um silêncio constrangedor se seguiu. Nenhum dos dois sabia o que deveria ser dito. Até aquele momento, eles nunca haviam parado para pensar no sentimento que nascia de sua amizade. Entretanto, parecia que Miguel não queria falar sobre aquilo, então logo já foi perguntando sobre as outras coisas que Laura havia ganhado na festa e com isso surgiram tantos outros assuntos que eles passaram o resto do dia conversando e rindo.
Uma linda noite chegou e os dois, cada um já em sua casa, 
foram observar a lua e as estrelas antes de dormirem, como sempre faziam. Ele viu uma paisagem mais linda do que esperava, já Laura...


Mapa do caminho da casa de Laura e Miguel até o Carvalho.






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