terça-feira, 29 de março de 2011

Capitulo III

                                                       CAPÍTULO III

  Laura soltou todo o ar de seus pulmões, encostou o ouvido na porta para ver se conseguia ouvir algo vindo de fora. Nesse momento as batidas recomeçaram. Mas não eram ameaçadoras, e sim sutis. Reunindo toda sua coragem, desencostou-se da porta e a abriu. Pela fresta ela viu o rosto que lhe era familiar.
- Filha! Eu vi você correndo para casa! Está tudo bem?
 A voz carinhosa da mãe era reconfortante! Abriu totalmente a porta e se jogou nos braços dela em um abraço apertado. Dona Ana perguntou o que havia acontecido, mas a menina ainda estava muito assustada para dizer algo que fizesse sentido. Laura recuperou o fôlego, mas se negou a falar sobre o ocorrido. “Não foi nada, mãe!”, dizia ela, “Eu me assustei a toa”. Mas na verdade ela não queria que sua mãe ficasse preocupada, e além do mais, talvez tivesse sido apenas sua imaginação.
 Dona Ana achou que o melhor a fazer era mudarem de assunto. Demorou um pouco pra Laura se acalmar de verdade, mas enquanto isso elas começaram a arrumar a casa. Os convidados logo chegariam, faltavam poucos minutos para a festa. Ansiosa para a chegada dos amigos, Laura passava toda hora em frente à janela da sala para ver se via alguém. Em uma dessas espiadas, teve a impressão de ver um par de olhos a encarando, atrás das árvores.  Mas procurou dispersar esse pensamento. “Deve ser só mais uma alucinação!”, pensou ela, a final já estava escuro lá fora seria difícil ela definir qualquer coisa com certeza.
 As luzes do quintal da casa começaram a se acender. Um a um todos os seus colegas foram chegando, e Miguel, claro, foi o primeiro! Trazia consigo uma caixinha de madeira, embrulhada em papel transparente com um lindo laço vermelho. Ele parecia envergonhado, isso porque ele não queria que Laura lesse o cartão enquanto ele estivesse ali. Então ela guardou o embrulho num canto, e foram esperar os outros convidados na varanda.
A noite estava linda e todos se divertiam muito! Havia muita comida, e o bolo estava delicioso! Tocava uma música animada, quase todos os convidados dançavam. Depois que estavam muito cansados, Laura e Miguel se sentaram em um canto. Deitaram-se na grama de maneira que ficaram lado a lado, observando as estrelas. Faziam muito isso. Não tinham nada que dizer, mas ambos estavam muito felizes, talvez mais felizes do que nunca.
  Quando a lua já estava muito alta no céu, as pessoas começaram a ir, aos poucos, cada um pra sua casa. Laura nunca havia ganhado tantos presentes! Mas estava muito curiosa para abrir um em especial! Logo que todos já tinham ido embora (inclusive Miguel) ela correu até seu quarto para ver o que seu melhor amigo tinha lhe comprado.
 Não sabia o que esperar, mas se surpreendeu mesmo assim! “Uma ampulheta!”. Ao tirar o papel de embrulho, algo caiu de dentro. O cartão. Ela pensava muitas coisas de Miguel, ela o considerava diferente dos outros meninos, um amigo muito especial! Mas após ler o que ele havia escrito, por um momento desejou que eles fossem mais do que amigos.
 Voltou sua atenção para a ampulheta que segurava nas mãos. Dentro dela havia uma areia muito fina e clara. Na base inferior, estavam gravadas as palavras “Ampulheta de um dia”. Virou-a e a pousou sobre o móvel, ao lado de sua cama. Ficou observando por uns minutos, o movimento dos grãos era bem lento. Imaginou se estaria olhando quando o último caísse.
 Deitou-se e, ao fechar os olhos, uma seqüência de imagens horripilantes passou por sua mente. “Não pode ter sido verdade, Laura. Aquilo não aconteceu, não poderia acontecer... é tudo sua imaginação” – disse a si mesmo várias vezes até pegar no sono.
 A areia descia sem barulho, porém, traiçoeiramente, contava o tempo de Laura.

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